segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Pensando bem acho que nunca gostei de arte.
Sempre me interessei muito mais pelo modo de vida dos artistas do que pela arte em si.
Na escola sempre achei super chato essas aulas de artes. Sempre me senti inferiorizado pela qualidade dos meus desenhos e pinturas. Certo dia na 6a serie tive um professor catalão chamado Bayon que me mostrou um filme do Dali. Dali para a frente tudo mudou para mim. Depois me lembro de ter gostado das aulas de português sobre os movimentos modernos de vanguarda. Sempre odiei museus e aquela arte me fazia entender o por que.
Mais pra frente até gostei de alguns museus mas o silencio dentro deles me deprime. É o mesmo silencio mórbido dos condomínios fechados, coisa de rico medroso. O que mudou tudo foi o Punk.
Entendi que odiava quem fazia alguma coisa muito bem. Essa coisa de desenvolver uma habilidade em detrimento de todas as outras produz indivíduos arrogantes. Guitarristas virtuosos são o exemplo máximo do que quero dizer. Ter uma banda mesmo que essa seja a pior do mundo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A Crise do autor - O declínio da gravação na nova musica

Segundo Pierre Levy em Cyberculturas (2000) “criar uma obra, deixar um traço, gravar, não tem mais o mesmo sentido, o mesmo valor que antes do dilúvio informacional. A desvalorização das informações é uma conseqüência natural de sua inflação.A partir de então, o propósito do trabalho artístico se desloca para o acontecimento, ou seja, em direção à reorganização da paisagem de sentido que, fractalmente, em todas as escalas, habita o espaço de comunicação, as subjetividades de grupo e a memória sensível dos indivíduos. Ocorre alguma coisa na rede dos signos, assim como no tecido humano.”(p154)
Esta desvalorização da gravação parece estar cada vez mais clara quando se observa o que está acontecendo no mercado da musica. Se podemos acessar qualquer musica que quisermos, o que hoje em dia fica explicito quando acessamos Blogs onde as pessoas oferecem gratuitamente suas coleções completas para todos por nenhum dinheiro. O que esperar da motivação dos futuros artistas para criar quando percebem que suas obras serão imediatamente transformadas em mais um código binário pronto para ser copiado e manipulado eternamente?
Levy aponta para a criação de um enorme museu virtual feito de reproduções do real, o que de certa forma aconteceu quando o disco permitiu que muito mais pessoas entrassem em contato com artistas como Beetholven ou os Beatles do as que puderam estar em seus concertos, tornando-se a principal interface do publico com a obra. Diz ele: “Os gêneros da cibercultura são da ordem da performance, como a dança e o teatro, como as improvisações coletivas do jazz......”....”Seu centro de gravidade é um processo subjetivo, o que os livra de qualquer fechamento espaço-temporal”. Propõe a participação em eventos mais do que espetáculos e utiliza a metáfora do jogo para pensar essa nova arte. “No jogo como no ritual, nem autor nem gravação são importantes, mas antes o ato coletivo aqui agora.
A musica da cibercultura , para Levy chamada de musicas tecno são resultantes de um trabalho recursivo de amostragem e arranjo de musicas já existentes. As características dessa nova arte convergem em direção ao declínio de 2 elementos importantíssimos até hoje na musica: o autor e a gravação. A tese é da forma do universal sem totalidade representado pela musica pop mundial. Universal pela difusão e sem totalidade já que os estilos são múltiplos e sempre em processos de metamorfoses constantes.
O interprete foi sempre mais valorizados do que o compositor nas sociedades de cultura oral. É ele que dá uma nova vida à tradição. A invenção da escrita da musica fez com que o sistema musical ocidental seja ensinado como tal em todos os conservatórios de todo mundo. Essa tradição escrita reforça a figura do compositor que assina a obra que é pretensamente original. Essa mesma escrita nos faz identificar as obras clássicas em função de suas características históricas, mesmo que não saibamos exatamente quem é o autor.
A gravação surge então para fixar os estilos de interpretação da musica escrita. O arquivamento da atualização sonora de uma estrutura abstrata, que antes ficavam dependentes da tradição oral agora permite que tenhamos arquivados estilos populares como jazz, rock ou mesmo o samba. O estúdio passa a ser o local sagrado da musica, representando a possibilidade do registro original da peça. O produtor ganha importância já que a performance ao vivo não garante que o original possa ser reproduzido sem as técnicas de mixagem, só possíveis com os aparatos tecnológicos de grandes estúdios.
A digitalização permitiu que os estúdios estivessem acessíveis a um numero cada vez maior de pessoas, que podem produzir e divulgar suas musicas sem passar por um numero enorme de intermediários. O uso de samplers, o MIDI, o remix fazem com que as musicas possam ser produzidas a partir de amostras pré-produzidas que são re-ordenadas e re-combinadas com outras amostras criando-se sempre novas combinações de um jogo de montar infinito.
Não se trata mais de uma repetição da tradição mas de uma “transformação permanente em uma rede cíclica de colaboradores.” A gravação deixou de ser o principal fim ou referencia musical. Mais do que “acrescentar um item memorável aos arquivos da musica” o importante é criar um happening onde todos são ao mesmo tempo produtores de materia prima (na gravação), transformador, autor, interprete e ouvinte. Esse processo de inteligência coletiva musical dispensa a totalização e se mostra universal ao incluir uma transmissão por contato, um fluxo musical constante que se alimenta do “todo”aberto na musica, da mais moderna a mais arcaica”.Desta forma os modos de fechamento da musica, a gravação e a composição deixam de representar o unico objetivo dos músicos de estúdio.

A crise do discurso neurótico



SULAMERICANA VISION
APRESENTA: VERÃO TROPICALAMA C/ PAI MÃE FILHA PRIMA E MUITOS OUTROS.

Desde cedo escolhi o lápis como instrumento de expressão. Lembro que sempre me assustou o fato de “escrever para sempre”, representado pela caneta. O conserto do erro, a borracha, a maleabilidade, o não-eterno, o recombinável sempre me interessou. Já como leitor foi a alguns anos que descobri o “highlight”. Samplear pedaços que antes eram recortes de revistas que criavam frases para as fitas cassetes que gravava às minhas amadas: Bricolage pura e simples para impressionar com a obra (merda) dos outros. Exploro, portanto a questão da autoria. No meu caso autoria a lápis e highlight da viagem a Tropicalama. Poderia ser sobre uma festa rave ou mesmo algum outro evento munido de um potencial místico ou revolucionário. Mas é só uma viagem de uma família. Quem escreve portanto são todos. A começar pela pousada Colibri, para onde estamos nos dirigindo. Espero que esse texto sirva também de guia aos futuros viajantes. A caneta eternaliza o que nem sempre é verdadeiro. Alias o que será verdadeiro no mundo das bricolages? Minha trilha sonora original está sendo preparada em meu novo I Pod Chinês com 2 GB. Infelizmente essa versão por ser tratar de uma cópia mais barata não possui o modo randômico o que me mantém a uma ordem da caneta. Tem musica pro pai, pra mãe, pra filha e até pros avós. A conta do banco assusta, mas como todos os terceiro mundistas tropicais, já nascemos com uma divida externa e interna. Eu vou fingir que não vi o vermelho assustador e viajar como se essas dividas não fossem minhas. “Algum conselho para minha viagem?” perguntei ao I Ching. A resposta foi: “A posse do grande” TA YU Como obedece à vontade do céu, faz tudo no tempo certo, disse o oráculo. Nove na segunda “Uma grande carruagem com sua carga. Ter algum destino em vista, não envolve erro. Uma grande carruagem pode carregar muitos bons. Isto sugere virtude acumulada e ajudantes hábeis aos quais podemos confiar grandes responsabilidades. Em qualquer direção que o avanço for feito, não haverá erro.”A viagem indica outro hexagrama para o futuro: R’UEI – O Antagonismo (desunião) homem e mulher são Antagônicos mas grande mesmo é a ação do tempo do Antogonismo. Na convivência com os homens, o nobre preserva sua particularidade. No fim sorte. Conservar as grandes posses só traz prejuízos. Enfim cheguei!!! O dono da pousada, ironicamente, me diz que o caminho ao paraíso não é fácil. E realmente não foi fácil. Minhas costas doem por ter carregado a mala da família toda, quando não carregava um próprio membro da família, minha filha de 3 anos e quase 20 kilos de puro encantamento. Eu que pensava não fumar cigarros comprei mais um maço de cigarros no desejo inconsciente de ficar com os dentes pretos. Como é que alguém pode pensar nisso em pleno paraíso? Como pode um desejo tão pequeno interferir numa sensação mística de completude que Tropicalama nos exalta? Dente preto no paraíso? Dormir e acordar, ciclo musical previsível, que nos acende a esperança de metamorfosear seus desejos de ter dentes pretos em algo mais branco, puro e maniqueisticamente falando: Bom. O vento é comunicação, uma forma de tudo entrar em contato com tudo. Isso traz a conclusão de que as teorias de rede criadas após o advento da web não são absolutamente novas. É lógico que se trata de uma nova perspectiva de comunicação mas é inegável que a “consciência do vento” faz com que seja impossível imaginar-se só, isolado dos outros seres vivos e mortos, tudo se conecta através do vento. A musica assim como o vento, só se faz sentir nas mudanças. Nota-se a música quando esta saí do previsível e algo inesperado acontece. Não fosse assim teríamos uma formula única para a criação dessas músicas/ ventos. Qual a velocidade (BPMs) da música/ vento? Essa seria a única pergunta em questão, o que nós, admiradores de música sabemos que não é a única coisa em jogo. Outro exemplo disso são as próprias férias. Pensei certa vez, junto a outro amigo, em abrir uma empresa que se chamaria FÉRIAS S.A. A ironia dessa idéia se dá pela sua inviabilidade. Como ter férias numa empresa que se propõe estar sempre em férias. Que música seria essa que é composta somente das quebras do previsível. Vou tentar explicar melhor. Se a vida/ musica/ vento se faz sentir nos movimentos metamorfoseantes, seria lógico tentar viver numa eterna férias. Porém as férias só fazem sentido para quem trabalha. Sem a constância da música, o 4x4, a teoria musical como um todo, não temos essa sensação revigorante da mudança dos ventos. Os primórdios da música eletro-acustica ao perceberem isso criaram uma musica somente de ruídos, sem rítimo, sem batida, sem BPM. Muitos até hoje podem chamar tais experimentos como anti-música. A anti-música, assim como a férias S.A. , vira também um tipo de continum, de outro tipo de previsibilidade. O que diferencia as férias eternas da vida de um desempregado? Ao preferimos o vento em detrimento dos sistemas artificiais de controle de temperatura, que buscam que as pessoas não sintam as mudanças de temperatura, estaríamos também, escolhendo o som (eletroacústica/concretos) muito mais do que a música (4x4), ao mesmo tempo em que estamos também optando pela utopia das férias S.A. Aqui no verão de Tropicalama todos estão felizes e por isso acreditam que a manutenção dessas férias poderia ser eterna. Porém o verão termina e todos voltam aos seus 4x4’s, seus cotidianos infernais que precisam desesperadamente de umas férias. E assim, a cada ano temos novas idéias de mudanças geradas nas férias de verão. Alguns preferem não sonhar e ficam perto de casa, mantendo-se no frio de um ar-condicionado. Dessa forma sofrem menos quando o inverno vem. Eis que as criativas férias se vão e o trabalho se inicia novamente. Alguns dos mais interessantes movimentos artísticos como a Bossa Nova nos anos 60 , as Raves nos 90, entre vários outros exemplos são tentativas de manter-se numa eterna férias. “Assim, no desenvolvimento do hip hop, a prática do duelo, originada, voltando ao passado, nas cifras nos pátios das escolas – sessões de rap” Competitivas e informais, com os rappers revezando na demonstração de suas habilidades – transforma-se em uma forma institucionalizada de “disputa’, a partir do momento em que o governo do dinheiro assume o controle”. (Pittman) in hip hop e a filosofia. No exemplo do hip hop fica claro que o que era novo torna-se previsível quando é institucionalizado. E a pergunta que fica é se existe alguma opção de fugir dessa sina. Para fugir disso podemos pensar simplesmente no evento, na mixagem, na união do sintético e do orgânico. Férias S.A. e muita tecnologia para continuar viajando. Quem paga a conta talvez seja a principal questão dessa utopia da vida dos ventos. Enquanto isso aqui na pousada a conta já está paga e portanto continuo aproveitando meus dias de Tropicalama . Meu foco são efeitos sociais da música e não se essa é ou não eletrônica. No fundo, para mim, junto a uma admiração quanto a técnica apresentada o que mais me chama atenção é a capacidade da música aglutinar pessoas de forma a criar, ondas sonoras que ao atravessarem todos no evento, em que está sendo escutada, assim como o vento, cria um micro ou macro espaço delimitado por essas ondas/ventos. Eis que um simples batuque num local paradisíaco como Tropicalama, é capaz de aglutinar pessoas ao seu redor, que trocam informações afetivas. Outros dormem e não participam dessa rede. Hoje meus pais chegaram. É engraçado perceber que juntando toda família, filha, pai, mãe, avô e avó, percebemos a interligação entre todos. Eu que já fui eu hoje sou pai da minha família. Na verdade eu era filho e agora sou pai. Mas ao ter meus pais por perto percebo novamente que sou filho ainda. Os avós que já foram somente pais hoje se vêem como avós mas nada tira, a comunicação deles ainda serem pais. Minha filha de 3 anos brinca que foi ela quem me fez. Na verdade ela esta certa já que ela, por enquanto, é a única responsável por eu ser pai. Bom, não a única afinal a mãe teve papel fundamental. Para ela porém o pai e a mãe são uma coisa só, que ela foi a responsável por fazer. Mais uma vez o orgânico me ensina sobre redes. Ensinamentos tropicalistas de férias S.A. O hip hop assim como a filosofia não me esclarecem todas as questões. Acabo de tomar uma picada de inseto que pode ser fatal... Sinto o ferrão ardendo e não sei se sobrevivo. Só sei que não estou pronto para o fim. A angustia de não ter vivido é a questão central. E viver depende da rede. Família, amigos, trabalho, estado, país, planeta etc, devem participar desse processo de viver emancipatório. Como é que eu vou conseguir ser parte da rede se não há escolha ? Se a responsabilidade sobre a qualidade do evento apresentado depende de todos, a “consciência do vento” nos obriga a ter uma ação coletiva. Férias com a família. Se, como disse anteriormente, o prazer da musica, ou todo o prazer está nos movimentos transformadores, nas mudanças de ventos então a rede deve ser maleável. Se os laços dessa rede dependem desse grau de satisfação dos participantes, devemos criar o máximo de movimentos (ventos) nessa rede. O que o hip hop me ensina é que o grau de violência desses movimentos transformadores devem ter um limite ético claro. Se o grau de violência mata os próprios protagonistas, a arte repete a vida. E se existe uma função para a arte é de ajudar nesses novos ventos. A calma de Tropicalama é violenta. Gatos são assassinados por outros gatos e os homens continuam a matar tudo o que lhe/nos dá prazer. As pacas estão terminando na ilha de Tropicalama. Hoje foi um dia de festa da comunidade local. Acabo de voltar da vila onde ocorreu um tipo de ritual para a queima do presépio. É o fim de um ciclo. Daqui da pousada escuto perfeitamente o som da música que está sendo tocada. O som é percussivo, um tipo de maracatu, coco, samba de roda etc. Mas de dentro do banheiro ouço outro som. Parecia alucinação mas de repente percebo que o elemento estranho que transforma a música em uma espécie de música eletrônica com rítimos regionais é na verdade causado pela interferência do som do ventilador. Ao fazer movimentos circulares o ventilador cria um groove, um loop que encaixa perfeitamente com a música que escuto de longe. Essa música que só eu escuto, tem toques de música concreta pois a descarga ao gotejar cria outra atmosfera sonora. Penso assim na música eletrônica. O ventilador é o eletrônico, o som não orgânico, produzido por uma máquina que se repete, como todo ciclo industrial. Se meu pai até hoje desconsidera a eletrônica como música é exatamente porque parece difícil aceitar um ventilador como uma coisa que produza um som que seja música. Música pressupõe, classicamente, a teoria musical e toda sua previsibilidade. Não que o ventilador seja imprevisível, mas as variações de corrente elétrica unidos a diferente resistência dos materiais em diferentes pontos do ciclo de movimento do ventilador, tornam esse som um pouco mais interessante. É daí que parte, a eletrônica na música. Historicamente os pioneiros dessa tentativa de usar elementos eletrônicos, próprios das máquinas e ruídos de todos os tipos em algo chamado de música tinha objetivos teóricos extremamente interessantes. Se somos todos neuróticos e a principal características dessa categoria psíquica é a necessidade de previsibilidade, é normal que tenhamos uma música que nós preencha de prazer ao ser absolutamente previsível. Todas as mudanças dentro da estrutura 4x4 da música são previstas na teoria musical. A eletroacústica surge para criar homens menos previsíveis. Ao romper com o 4x4, com a constância nos intervalos entre os sons e com a harmonia essa tradição erudita da música eletrônica queria mostrar que tudo podia ser música e que deveríamos ser menos enfeitiçados pela sua mágica, pensando na música como estruturante de um tipo psíquico específico de uma época.

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Uma frase pode dizer muito mais do que o livro todo
Museu de tudo e depois
E agora José? Pois pois!!.

Meu cheiro diz muito mais sobre meu cansaço
Do que minha própria cara
Meu nariz cheira muito menos amigos
Do que o meu próprio umbigo

Penteio minha sobrancelha sem pelos
Enquanto adoto modelos
Pouco certeiros
Quase um completo desespero

Sentido sem razão
Ou simplesmente viver sem emoção
Ares condicionados no máximo do desespero
Pêlo, mais uma palavra sem cheiro.